Estou seca e fraca, já não me recordo de todos os momentos da minha vida, mas existe sempre um que se eleva em relação a todos os outros, esse sim, fica sempre na memória...
Na minha juventude, quando ainda não me preocupava com as consequências dos meus actos, queria renunciar a toda a hora a minha função como deusa. Tinha o poder, aliás ainda tenho, de matar a sede ao Mundo. Sou responsável pelas marés, pelas primeiras chuvas de Outono, pelas gostas de orvalho logo pela manhã, pela grandiosidade dos glaciares, pelo sorriso do arco-íris, enfim pela sobrevivência.
Estava farta da palavra lágrima, até o meu nome me assombrava, chamo-me Tear e quero contar esta história para todos verem que tudo o que está destinado tem algum propósito e o meu neste caso é viver afogada na alegria dos outros.
Estava sentada numa sala fria, húmida, isolada do Mundo, onde a minha única companhia era o meu inimigo, um peixe que Zeus enviou para controlar cada passo que dou, cada lágrima que escorre como um rio na minha face. Decidi olhar pela janela quando vi uma rapariga com uma expressão oposta àquela que enfrento diariamente. As maçãs do rosto rosadas elevavam-se num movimento brusco e suave ao mesmo tempo, os olhos semicerravam-se como a lua quarto crescente, onde o brilho entre lábios realçava de uma maneira única. O que é aquilo? Outra maneira de precipitação? Decidi investigar, todos os dias, onde a janela era a minha confidência, mas ao mesmo tempo o espelho do Mundo do qual sentia necessidade de conhecer, tocar, sentir, admirar...
Aproximava-se a altura do meu 15º aniversário, e foi-me concebido um desejo. Invadida por esta curiosidade que me agarrava dia após dia, luar após luar, vi a ida àquele Mundo inevitável, indispensável, incurável. Tinha de ultrapassar esta dor que persistia em não terminar. Entretanto continuava dando as minhas lágrimas, até que chegou o dia.
Larguei tudo o que me era óbvio e fui à descoberta de um universo de mentalidades opostas.
sensação da minha vida. Tentei ser o reflexo da rapariga que realizou o acto desconhecido e consegui, senti-me especial por ter alcançado o que sempre sonhei. Passei por várias pessoas e perguntei que acto era este que me consumia, ninguém me respondeu, todas baixavam a cabeça e faziam o que era suposto eu fazer, derramar lágrimas. Será este o Mundo que eu observava diariamente? Não tinha maneira de obter resposta. Caminhei por entre caminhos obscuros, vazios de ruído, que transmitiam uma sensação arrepiante. Ouvi um suspiro forte, seguido de um choro como que imparável. Quase sem me aperceber encontrei a fonte da qual provinha tudo isto e por incrível que pareça era a rapariga que vira a fazer o acto desconhecido. Fiquei transtornada, destruída, com o coração devastado. Perguntei-lhe o que se passava, porque estava daquela maneira, ela respondeu-me que tinha a família prestes a morrer devido à sede. Então foi aí que percebi o propósito da minha vida, o quanto fazia falta ao Mundo, o meu lugar não era ali. Pedi-lhe se podia fazer uma última pergunta, ela respondeu ainda suspirando que sim e perguntei-lhe o que era aquele acto desconhecido, até que finalmente obtive o significado da minha viagem, era um sorriso. Abracei-a levemente, mas ao mesmo tempo com tanta força que senti tudo o que provinha dela, o batimento forte do coração, a respiração acelerada e o sentimento de dor e sofrimento daquela criança que não merecia conhecer o significado da palavra sede.
Abalei, voltei para o meu lugar, abandonando o meu sonho, mas contente porque sabia que brevemente voltaria a ver o sorriso do Mundo que me encantou desde aquele dia.
Agora sinto-me leve, choro de felicidade pelo papel que me foi destinado, tenho orgulho daquilo que sou e daquilo que me tornei. Sou feliz, por saber que cada lágrima minha corresponde a um sorriso. 
Catarina Martins nº4
Rita Casa-Velha nº 15
10ºA
Professora Céu Morcela
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